quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

de olhos no vazio

- Deus do céu, Sheila! O que se passa? – gritei num tom mais alto e alarmado do que pretendera.
Sentia-me cada vez mais assustada, à medida que lhe tirava o último papel. Sangue vivo escorria-lhe da vagina.
Contudo, Sheila mantinha-se imperturbável. O rosto não deixava transparecer qualquer emoção. Continuava de olhos perdidos no vazio, sem me fitar. Estava mais pálida do que parecera à luz fraca da aula; como estava pálida, meu Deus! Interroguei-me sobre quanto sangue teria perdido. Numa tentativa de arrancá-la ao seu estoicismo, agarrei-lhe nos ombros e sacudi-a.
- O que aconteceu, Sheila? Tens de contar-me. Deixa-te de jogos, vá lá. O que te aconteceu?
Ela pestanejou, como se acordasse de um pesado sono. Pagava caro aquela aparente impassibilidade.
- O tio Jerry – começou num fio de voz – tentou meter a sua coisa em mim esta manhã. Mas não entrava. Então, ele pegou numa faca. Disse que eu fazia de propósito para não o deixar entrar e meteu a faca lá dentro, para que eu parasse.
Estava aterrada.
- Meteu-te a faca na vagina? – consegui articular.
Ela assentiu com a cabeça.
- Uma das facas da cozinha. Ele disse que eu me ia arrepender de não o deixar meter a sua coisa em mim. Disse que ia doer muito mais e que eu lamentaria.



in "A criança que não queria falar" de Torey Hayden
Este foi um livro que me tocou imenso. Foi escrito por uma educadora de meninos especiais. Numa das suas turmas conheceu Sheila, uma menina de seis anos (se não estou em erro) com muitos problemas e que, um dia, foi violada pelo tio. Esta, é uma história verídica.

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