segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

chocolate

Eles eram amigos de infância. Daqueles casos, como há tantos, em que perderam o contacto e quando o restabeleceram eram já dois adolescentes.
Foi um tanto ou quanto trabalhoso para a Matilde reconquistar a amizade do Pedro. Algumas tardes e noites perdidas até que ele acabou por ceder.
Tinham o mesmo grupo de amigos que adorava passar as tardes no parque da cidade ou então, como tantas vezes faziam, passavam a tarde em casa de algum amigo entre conversas, jogos e lanches.
A amizade do Pedro e da Matilde rapidamente se tornou naquilo que nenhum dos dois esperava. A sua amizade rapidamente se tornou em amor.
Todos os dias a Matilde sabia que receberia alguma coisa do Pedro, fosse um bilhete, um abraço ou um miminho.
Os bilhetes que ele lhe enviava continham sempre um aroma a infância, a sonhos, a brincadeira e a chocolate. Isso, chocolate! O Pedro adorava chocolate. Chocolate de todos os tipos, mas se lhe dessem chocolate preto, ele deliciava-se ainda mais.
Tornou-se um hábito. Ele enviava-lhe bilhetes e ela trazia-lhe chocolates sempre que ia a algum lado.
A Matilde era uma rapariga normal aos olhos de qualquer um, no entanto, tinha perdido o brilho de viver e não tinha vontade para a vida. Já o Pedro era um rapaz pouco mais velho que ela e com uma vida algo já vivida, mas com uma enorme criança dentro dele e um forte poder para sonhar. Era isso que a Matilde mais gostava nele. Bastava fechar os olhos e ele conseguia ganhar asas e ir onde queria. Sonhava muito e isso deixava qualquer um feliz à sua volta.
Com o passar do tempo, ele ensinou-a também a voar. Deu-lhe umas asas e explicou-lhe como se fazia. Ela foi tentando e tentando ate que começou a dedicar parte do seu dia ao voo. Sentia-se leve e bastante feliz quando o fazia e quando não o estava a fazer, continuava feliz.
Começaram a ver-se com mais frequência e a primeira coisa que o Pedro fazia quando a tinha perto dele, era puxá-la e dar-lhe um enorme abraço.
Os abraços dele eram os melhores do mundo, protegiam-na e davam-lhe muita força para enfrentar cada novo dia.
Ele começou a ir a casa dela mais vezes, apenas para a ver, para lhe perguntar se estava bem, dar um beijinho e regressar ao seu cantinho. O Pedro tinha um enorme carinho pela Matilde e queria sempre o que fosse melhor para ela.
No entanto, com o passar do tempo, ele começou a desligar-se. Deixou de aparecer tanto como de costume. Deixou de falar tanto como fazia com ela e deixou de brincar.
No fundo, o Pedro perdeu-se e deixou, caídas num canto, as asas que sempre o acompanhavam e o faziam sorrir e ser criança.

5 jan. 2009

1 comentário:

Anónimo disse...

amizades*

Mia